Thursday, September 15, 2005

BAKUNIN E BOMFIM : COINCIDÊNCIA OU CLARIVIDÊNCIA ?

Abaixo apresento três textos em completa interseção com minhas idéias; o problema não é a forma de governo, o problema é a ganância do ser humano e a vaidade como conseqüência.

O primeiro eu já conhecia e esbarrei com ele novamente no endereço do movimento
basta-já!, movimento com boas idéias mas ações tímidas ainda. Trata-se de um trecho do brilhante trabalho do Sr.Mikhail Bakunin (1814-1876).

O segundo é apenas para reforçar a idéia do primeiro, memórias do Sr. Gorbatchev em "A Perestroika."

Já o terceiro é um artigo do Sr. Elio Gaspari, publicado no jornal
O Globo. É impressionante como retrata o atual momento vivido pelo país.

Começamos pelo Sr. Bakunin:

"Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana."

Diz o Sr. Gorbatchev:

"Acreditamos que o problema fundamental ainda continua sendo a combinação dos interesses pessoais com o socialismo. (...) Ainda sentimos os efeitos de uma certa alienação, causada pela debilitação dos laços entre os organismos econômicos e de Estado, as unidades de trabalho e os trabalhadores comuns, com subestimação do papel desempenhado por estes no desenvolvimento da sociedade socialista."

Palavras a serem levadas seriamente em consideração, afinal enxergaram as faltas que não tornaram possível o tal sonho socialista.

A palavra agora é do Sr. Gaspari:

A CLARIVIDÊNCIA DE MANOEL BOMFIM

O jornalista Rodrigo de Almeida estava lendo “A América Latina – males de origem”, de Manoel Bomfim, quando ficou com a impressão que lia os jornais de hoje. Vale conferir o trecho:

(...) Mesmo os mais ousados entre os homens públicos, os mais revolucionários, são tão conservadores como os conservadores de ofício. (...) Mesmo revolucionários hoje, a sua aspiração mais viva é ter, no dia seguinte, toda a gente conforme com os seus atos, é ver que todos vêm aderir a eles. E a adesão se faz efetivamente; não há nada que se oponha a isto; amanhã será tudo como ontem. Na véspera, era de vê-lo, apóstolo, inflamado, radical, incitando as gentes ao combate; no dia seguinte, a voz se amansa, arrasta-se sensata nos conselhos da sabedoria e da ponderação (...). Armam rebeliões, assaltam o poder, mas, uma vez plantados no governo, tais políticos dirigem todas as suas prevenções contra os próprios revolucionários. Agora, seu papel é “conservar”. (...) Parece um paradoxo, tão estranho é: pouco importa a luta, os conflitos, os levantes e as revoluções que tenham trazido o indivíduo ao poder; uma vez ali, “sentindo as responsabilidadesdo governo”, o verdadeiro homem se revela; tudo parou, o revolucionário de ontem desaparece, as gentes ponderadas e graves podem aproximar-se – ficarão encantadas de verificar que mundos de sensatez nele se encerram ali; a vida cai continuar tal qual era; “o período de agitação acabou, as responsabilidades etc., impõem o dever de não criar dificuldades novas.”

Bomfim era sergipano, publicou esse texto em 1904, em Paris, e morreu em 1932, aos 64 anos. Poucos estudiosos do Brasil defenderam o seu povo com tanta valentia. Bomfim está naquele grupo de escritores que as pessoas adoram (e citam) quando estão na oposição. Quando chegam ao poder, esquecem-no.

Prova: o governo federal, emérito editor de irrelevâncias, nunca publicou uma sólinha de Bomfim.

Como disse o Sr. Henry Louis Mencken (1880-1956):
"A pretensão messiânica de salvar a humanidade é apenas o disfarce para a intenção de subjugá-la."